O barco do cruzeiro é a Europa.
Os europeus rodopiam dentro do barco, completamente fechados nele, alheios ao mar que os cerca, alheios ao exterior. Alienados só consomem e consomem o que lhes põem á frente.
Alguns deles estão preocupados, deambulam pelos limites dos espaços exteriores, frios e ventosos do navio. Falam-se em várias línguas e discutem o estado da Europa. Da “pobre Europa”.
Alemães, franceses, árabes, russos e americanos, todos dentro do mesmo barco.
A Rússia quer fazer parte da Europa. A Alemanha quer esquecer a guerra. A Europa está presa a essa guerra, recalcada e desgastada por ela. Ainda não se libertou desse passado maldito.
E os jovens? Que têm a dizer sobre a Europa? E as crianças? Neste filme, elas parecem ser as donas da sabedoria, têm soluções para o seu futuro, para o futuro deste “arquipélago”. Ou ainda, segundo Godard, esta colónia da América?
As câmaras fotográficas digitais e os telemóveis parecem a nova forma de perceber a realidade, digitalizando-a a cada momento e transferindo-a para o youtube, mostrando ao mundo as “suas realidades” distorcidas.
Em França, uma família debate-se com o verbo Ser e Ter. Os pais questionam os seus filhos sobre o seu amor por eles. Por outro lado aquela repórter e aquela operadora de câmara, que representam os media, e , que como abutres á procura de qualquer oportunidade de se alimentarem, filmam horas a fio, a rapariga adolescente que lê Balzac, parecendo sugar-lhe a vida e juventude com a objectiva. (Godard tem um ponto de vista, algo radical, relacionado com a imagem que é transmitida na televisão. Considera ser uma imagem falsa, que cega a sociedade, estando a verdade na imagem do cinema. E ele é incansável na busca da verdade, da sua verdade, de uma justiça, através do seu trabalho. Quer mostrar ao público as suas inquietações sobre o mundo e anseia pelas reacções, pelas perguntas e pelas respostas.)
A criança desta família, não tem medo de nada, nem sequer do Sol! Ela “brinca” com a arte, inspira-se, pinta, dança, ouve, sente a música e a pintura. Estará Godard a querer dizer que é através da educação das crianças que a Europa pode sair desta crise? Que o pensamento filosófico da adolescente e a descoberta da arte do rapaz tornam-nos capazes de resolver um problema que parece impossível de resolver de momento?
Enquanto uma multidão dentro do barco, se diverte, come e gasta rios de dinheiro, outros, muito poucos, preocupam-se com o futuro da Europa, buscando no horizonte do mar uma resposta.
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